Clint Eastwood, prolífico diretor de quase 90 anos, tem filmes incríveis no vasto currículo, e outros não tão incríveis assim, como exemplo A Mula, lançado em 2018, que não foi bem recebido. Em O Caso Richard Jewell, no entanto, ele merece ser condecorado senão pelo longa em si, pela escolha da estrela Paul Walter Hauser como protagonista.
A produção é altamente beneficiada por uma história que é tão interessante quanto trágica: Durante as Olimpíadas de Atlanta em julho de 1996, o segurança Richard Jewell encontrou uma mochila suspeita onde um show comemorativo estava sendo realizado. Confiando nos seus instintos e nos seus conhecimentos sobre procedimentos policiais, ele alertou as autoridades e estava em processo de evacuar os presentes quando a bomba escondida dentro da mochila explodiu.
O terrorista havia incluído centenas de pregos no dispositivo, que foram lançados contra a população. Como resultado, duas pessoas morreram e várias ficaram seriamente feridas, um cenário que poderia ter sido muito pior não fosse a iniciativa de Jewell. Devidamente reconhecido como herói, o filho único que morava com a mãe interpretada por Kathy Bates viu sua vida mudar completamente, concedendo entrevistas e sendo procurado para contar sua história em um livro.
Química entre atores é ponto alto do filme
O que Richard não previa era que o FBI, com dificuldades de encontrar um suspeito, se voltaria contra ele e passaria a tecer uma nova narrativa: A de que ele mesmo teria plantado a bomba com o objetivo de ficar famoso ao salvar as vítimas. A situação piorou consideravelmente quando a mídia comprou a distorcida versão, e da noite para o dia transformou-o no grande vilão do caso.
Jon Hamm estrela como um dos principais agentes do FBI que usa de métodos escusos para tentar e conseguir provas ou uma confissão por parte de Jewell de um crime ele não cometeu. Hauser é sem dúvida a estrela do longa, entregando uma atuação comovente, engraçada e altamente precisa, ajudada pela impressionante semelhança física com o personagem da vida real.
É doloroso assistir enquanto ele tenta conciliar a intensa veneração pelo governo americano e suas figuras de autoridade ao mesmo tempo que tenta provar sua inocência. Sam Rockwell, por sua vez, vive um complicado advogado que Richard conheceu anos atrás e que passa a representá-lo no caso. Os dois titãs tem ótima química e juntos comandam momentos hilários e outros de partir o coração.
Atriz é ponto fora da curva
O único membro do elenco que infelizmente destoa do restante é Olivia Wilde como a repórter Kathy Scruggs, que interpreta a personagem – já mal caracterizada pelo roteiro e pelas escolhas da direção – como uma vilã de história em quadrinhos que nada tem a ver com o realismo e a sutileza de Paul e cia.
O Caso Richard Jewell não é uma obra prima – salvo as performances – mas figura como um importante conto de advertência sobre as falhas do governo e o poder destrutivo da mídia. Uma fake news levada tão à sério que quase terminou com um inocente na cadeira elétrica.